quarta-feira, 2 de maio de 2012

Correntes filosóficas: Empirismo, Racionalismo e Criticismo Kantiano

Podemos enumerar três grandes correntes filosóficas empenhadas em explicar como se dá o desenvolvimento do conhecimento humano: o empirismo, o racionalismo e o criticismo kantiano.


O empirismo parte do princípio de que o desenvolvimento do conhecimento é determinado pelo objeto, pela experiência, pelo ambiente externo e não pelo sujeito, isto é, de fora para dentro. De acordo com esta concepção, o ser humano desenvolve o seu conhecimento passivamente, a partir de reações do sujeito a estímulos externos, propiciados pelo ambiente. Esta concepção tem sua origem na antiguidade, através dos filósofos materialistas. No entanto, é na modernidade que ela ganha força. Seus principais representantes são: Francis Bacon, para quem o homem deveria exercer um domínio total sobre a natureza e David Hume, que considera que a mente de todos nós, quando nascemos, é como um livro em branco, que será escrito a partir das experiências de cada um.


O racionalismo, por sua vez, parte da afirmação de que o desenvolvimento do conhecimento é definido pelo sujeito e não pelo objeto ou pelo meio, ou seja, o conhecimento é formado de dentro para fora. Desse ponto de vista, o sujeito traz consigo, desde o nascimento, as ideias verdadeiras que serão necessárias para a construção do conhecimento, o uso sábio destas ideias inatas impedirá que ele incorra nos erros comuns daqueles que se deixam levar apenas pela experiência. O homem já nasce com a inteligência “pré-moldada”. Assim como o empirismo, o racionalismo tem suas raízes na antiguidade, através de Platão e outros pensadores importantes. Na modernidade, o principal pensador racionalista é Descartes, que, através do “cogito” (penso, logo existo), postulou a supremacia total da razão.


Embora sejam distintos completamente na concepção do conhecimento, tanto o racionalismo e o empirismo cometem o mesmo erro, que é a separação total do sujeito que conhece do objeto que é conhecido, as consequências desta cisão para a humanidade são tão alarmantes que a ela é creditada a maioria dos males advindos do mau uso do entendimento desde a modernidade até os nossos dias.


Ao empirismo credita-se, por exemplo, a importância exagerada que é dada ao conhecimento técnico e científico. Como podemos observar em nossas escolas, já que a educação é o tema central do presente ensaio, há uma distribuição de carga horária que privilegia as chamadas disciplinas “exatas”, como a matemática, a física, a química, deixando de lado as chamadas “humanas”, como a história, a sociologia e a filosofia. Em alguns casos, a proporção chega a “quatro por um”. Qual é a razão para isto? Um grau de importância maior concedido ao conhecimento técnico, deixando em segundo plano a formação humana do indivíduo, sem a qual ele não poderá fazer um uso consciente do saber técnico.


 Ao racionalismo, sobretudo o pensamento cartesiano, recai a crítica de ser o responsável por toda a fragmentação no campo do saber. Ao estabelecer uma total distinção entre sujeito e objeto, Descartes abriu as portas para uma visão fragmentada da realidade, muito criticada, talvez injustamente, por Capra, em seu livro “O ponto de mutação”, no qual o autor defende uma visão mais integral e “holística” da realidade. Esta fragmentação do saber pode ser evidenciada também na educação. A própria divisão em disciplinas “exatas”, “biomédicas” e “humanas” é um exemplo disto, assim como a “especialização”. Os médicos, por exemplo, não tratam da saúde do corpo como um todo. Há aquele que trata da enfermidade dos olhos, o que trata da enfermidade do coração e assim por diante.


Finalmente, chegamos ao criticismo kantiano. A grande contribuição que podemos atribuir a Kant foi a iniciativa de superar a dicotomia sujeito/objeto, característica do pensamento anterior ao seu, embora os seus críticos afirmem que o que ele conseguiu foi ampliá-la ou, na melhor das hipóteses, apresentá-la de uma nova maneira, através do que ele mesmo chamou de “revolução copernicana”. Para Kant, o desenvolvimento do conhecimento está totalmente ligado à interação entre o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido. O sujeito fornece a “forma” para o conhecimento e o objeto, a “matéria”, estando esta intrinsecamente ligada àquela. O ponto de partida de Kant é uma crítica à capacidade da razão, a razão não pode conhecer tudo, pois nem tudo se apresenta para ela. Desta forma, podemos ver em Kant uma primeira tentativa de conciliação entre o homem e o mundo, principalmente através do apelo para uma formação crítica do indivíduo. O homem deve construir o seu conhecimento através da realidade que lhe é apresentada. Ele não é o senhor pleno da natureza, como quiseram dar a entender tanto o empirismo, quanto o racionalismo. Ele é parte importante da construção do saber, cabe a ele, através dos dados fornecidos pela experiência, transformá-los em conhecimento, através da interação entre os dados fornecidos pelos sentidos e a capacidade inata da razão.


 No que se refere à educação, o pensamento kantiano tem implicações decisivas, pois, em última instância, é o indivíduo que constrói o seu saber. É necessário que o homem, sobretudo os jovens estudantes, compreendam que a educação é a construção de toda uma vida, não se aprende um ensinamento acabado, pronto, pois o aprendizado é um processo contínuo. Para que isto seja possível, é necessário que os educadores também tenham uma mudança de postura em relação ao ensinar. O professor já não é mais aquele que detém o conhecimento, ele deve ser um estimulador, deve incentivar os alunos, levá-los a compreender que existe todo um mundo esperando que eles cooperem de alguma forma, levá-los a compreender que se não fosse pela abnegação e sacrifício de inúmeras pessoas que dedicaram sua vida à pesquisa, científica e filosófica, a humanidade não teria saído de seus primórdios e viveríamos ainda como viviam nossos ancestrais. É importante também que o educador estimule os seus alunos a formarem uma conduta ética, que saibam usar dos recursos naturais de forma consciente, de forma que sua utilização não apresente um perigo para eles próprios e para as gerações futuras.
    
A autonomia da razão é o bem mais precioso que a pessoa pode aspirar, no entanto, o que se observa nas escolas é o oposto, formam-se, a cada dia, dezenas e dezenas de “autômatos” humanos, que, levados por um anseio de “se dar bem na vida”, preocupam-se apenas com “o terreno da própria casa”, pensando que podem viver como parte isolada do todo e procurando levar vantagem em tudo. São indivíduos “práticos”, querem tudo de forma instantânea, pronta, nunca se perguntam como surgiu o carro ou o computador que usam diariamente, querem apenas usá-los. Felizmente, existe uma pequena gama de indivíduos para os quais tais preocupações consomem os dias, fazendo-os dedicarem-se ao bem estar humano, em detrimento do seu próprio bem estar. Um indivíduo destes é aquele que, mesmo não estando afetado por uma doença grave, dedica seus dias à cura deste mal, cura esta que será empregada em auxílio de inúmeras pessoas. Se não houvesse homens desta natureza, o mundo ainda seria o mesmo de milhares de anos atrás. Por outro lado, muitos têm empregado os mesmos esforços em sentido contrário, por exemplo, visando a destruição da natureza e a própria destruição humana, através de artefatos como a bomba atômica e outros tantos. São pessoas que, embora tenham obtido um nível muito grande de conhecimento, lhes falta o correspondente saber humano e ético, fruto do desequilíbrio do qual já falamos no presente ensaio.


Ao abordar o “esclarecimento”, Kant apela para a necessidade do homem superar a menoridade da razão (da qual ele é o próprio responsável), através do abandono da preguiça e da covardia e do uso público da razão. O que é isto senão o exercício da autonomia da razão? Voltando à nossa questão inicial, que era abordar a necessidade de um uso consciente das capacidades humanas, concluímos que é necessário que haja um equilíbrio entre o saber técnico e a formação humana e ética, pois só a partir deste equilíbrio é que poderemos nos tornar conscientes de que cabe a nós a responsabilidade pelos nossos atos. Não devemos creditar a terceiros a responsabilidade das decisões que tomamos, nem tomá-las sujeitando-as à aprovação de outros em detrimento da nossa própria aprovação. Este é o papel que cabe à educação a aos educadores, para que se possa reverter este quadro caótico que se encontra diante de nossos olhos, mudando assim o rumo dos acontecimentos, para que possamos andar em direção à formação de uma nova humanidade.

* Fragmentos retirados de http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2602794

3 comentários:

  1. A percepção do Mundo externo e a abstração da realidade realizada na mente humana são o que faz o homem adquirir sabedoria, segundo o empirismo.
    O empirismo causou uma grande revolução na ciência, pois graças à valorização das experiências e do conhecimento científico, o homem passou a buscar resultados práticos, buscando o domínio da natureza. A partir do empirismo surgiu a metodologia científica.

    Fonte: http://www.infoescola.com/filosofia/empirismo/ acessado em 04 mai 2012.

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  2. No racionalismo, todo homem, segundo Descartes, possuía razão, a capacidade de julgar e de discernir o verdadeiro do falso. O homem deve seguir um método para conduzir bem a sua razão e procurar a verdade nas ciências, afirma que devemos rejeitar como falso tudo aquilo do qual não podemos duvidar, somente devemos aceitar as coisas indubitáveis.

    Fonte: http://www.infoescola.com/filosofia/racionalismo-cartesiano/ acessado em 04 mai 2012

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  3. No Criticismo Kant diz desenvolver uma "filosofia transcendental" na qual expõe a crítica a que há que submeter a razão humana a fim de indagar as condições que tornam possível o conhecimento a priori. Com a sua filosofia Kant conciliava as disputas entre empiristas e racionalistas. Para isso considera que existem duas faculdades que operam na aquisição de conhecimentos: a sensibilidade e o entendimento.

    Fonte: http://ocanto.esenviseu.net/apoio/kant.htm acessado em 04 mai 2012.

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