quinta-feira, 10 de maio de 2012

Filosofia da educação



A relação da filosofia com a educação existe desde a antiguidade no mundo grego. Os filósofos gregos, em busca da arete[1] humana, foram os que deram início às discussões sobre a filosofia da educação. Viam na educação um meio necessário para o alcance de uma cultura ideal e de uma alma purificada, capaz de elevar o homem ao conhecimento inteligível, apostando na busca de um ideal artístico de cultura.
A busca pela educação ideal é representada por Platão na metáfora da “alegoria da caverna”, no momento em que um dos homens presos no fundo de uma caverna consegue se libertar do conhecimento da doxa[2] enxergando a luz da verdadeira realidade.
Na visão platônica, a filosofia deveria transcender a contingência histórica, contribuindo para o processo de esclarecimento da verdadeira sabedoria, na superação das falsas crenças, lançando a idéia de uma educação para a virtude, uma educação perfeita, com a qual o homem se torna culto e erudito.
Nessa expectativa, a educação acabou tornando-se objeto de estudos e reflexão da filosofia desde os tempos gregos. Pode-se dizer que a filosofia da educação surgiu do forte vínculo entre a filosofia e a pedagogia estabelecido no decorrer dos anos, pois a filosofia, preocupada com as formas do conhecimento perfeito, orientou o ser humano segundo a razão, inferindo um pensamento pedagógico que busca a perfeição.
Percebemos no mundo Grego a filosofia e a educação indissociáveis, fato presente ate nos dias atuais. Entretanto, a filosofia da educação dos últimos tempos, procurou transcender seus limites conceituais, aventurando-se nas discussões filosóficas modernas e contemporâneas que propiciam a articulação entre diferentes perspectivas teóricas.
Na modernidade temos outros sistemas filosóficos e as teorias pedagógicas sendo refletidos: racionalismo (Descartes), iluminismo (Kant), romantismo (Rousseau) e idealismo (Hegel).
Na contemporaneidade temos diversos desafios e temas sendo refletidos como: as questões do sujeito, da liberdade, da autonomia e da dignidade em relação aos desafios da ciência e da tecnologia, temos ainda outras demandas sendo refletidas na filosofia da educação como as questões da responsabilidade, da justiça, da solidariedade, do individualismo em relação aos processos de globalização, as questões do outro, da tolerância e do interculturalismo, bem como a relação da Ética, política, ciência e religião no processo educativo.
Segundo Luckesi a educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos.  Em suma a Filosofia fornece á educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar.
 
* Fragmentos retirados de 
STIGAR,Robson. Disponível em <http://www.infoeducativa.com.br/index.asp?page=artigo&id=263>


[1] Adaptação perfeita, excelência, virtude.
[2] Crença comum, opinião popular, origem da palavra ortodoxo.

“Teoria dos dois mundos” - A Distinção entre o Mundo das Ideias e o Mundo Sensível









Platão em seus estudos conheceu e se aprofundou nas teorias de dois dos maiores filósofos pré-socráticos, Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia. Antagônicas entre si, Platão reconheceu certo acerto na filosofia de ambos os filósofos e procurou resolver o problema criando sua própria teoria.
De Heráclito, Platão considerou correto as percepções do mundo material e sensível, das imagens e opiniões. Para ele, a matéria era algo imperfeito, em constante estado de mudança.
Concluiu, no entanto, que Parmênides também estava certo ao exigir que a Filosofia se afastasse desse mundo sensível, para ocupar-se do mundo verdadeiro, visível apenas ao puro pensamento.
Com um toque de seu mestre Sócrates, de quem Platão aproveita a noção de logos, está criada a teoria platônica e a distinção dos mundos sensíveis e inteligíveis.
Platão afirma haver dois mundos diferentes e separados: 
1) o mundo sensível, dos fenômenos e acessível aos sentidos; e
2) o mundo das ideias gerais (inteligível), "das essências imutáveis, que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos".[2]
Platão, assim, tenta superar a oposição de Heráclito à mutabilidade essencial do ser e a posição de Parmênides, para qual o ser é imóvel, relacionando o mundo das idéias ao ser parmenídeo e o mundo dos fenômenos ao devir heraclitiano.
Para explicar melhor sua teoria, Platão cria no livro VII da República o mito da Caverna, segundo o qual imagina uma caverna onde estão os homens acorrentados desde a infância, de tal forma que não podem se voltar para a entrada e apenas enxergam uma parede ao fundo. Ali são projetadas sombras das coisas que se passam às suas costas, onde há uma fogueira. Platão afirma que se um dos homens conseguisse se libertar e contemplar a luz do dia, os verdadeiros objetos, ao voltar à caverna e contar as descobertas aos companheiros seria dado como louco.
No mito podemos associar os homens presos à população e o homem liberto a um filósofo. Os homens presos conhecem apenas o mundo sensível, já o liberto conheceu a verdadeira essência das coisas, conheceu o mundo das ideias.

* Fragmentos retirados de http://www.webartigos.com/artigos/platao-e-a-distincao-entre-o-mundo-sensivel-e-o-mundo-das-ideias/6969/

domingo, 6 de maio de 2012

Teoria da “Maiêutica” defendida por Sócrates


Sair do estado aporético exigia que o interlocutor abandonasse os seus pré-conceitos e a relatividade das opiniões alheias que coordenavam um modo de ver e agir e passasse a pensar, a refletir por si mesmo. Esse exercício era o que ficou conhecido como maiêutica, que significa a arte de parturejar. Como sua mãe, que era parteira, Sócrates julgava ser destinado a não produzir um conhecimento, mas a parturejar as ideias provindas dos seus interlocutores, julgando de seu valor (a parteira grega era uma mulher que não podia procriar, era estéril, e por isso, dava a luz aos corpos de outra fonte, avaliando se eram belos ou não). Significa que ele, Sócrates, não tinha saber algum, apenas sabia perguntar mostrando as contradições de seus interlocutores, levando-os a produzirem um juízo segundo uma reflexão e não mais a tradição, os costumes, as opiniões alheias, etc. E quando o juízo era exprimido, cabia a Sócrates somente verificar se era um belo discurso ou se se tratava de uma ideia que deveria ser abortada (discurso falso, errôneo).

 

Assim, a maiêutica constituía, por excelência, uma das principais formas de atuação do método dialético de Sócrates, desfazendo equívocos e deslindando nuances que permitiam a introspecção e a reflexão interna, proporcionando a criação de juízos cada vez mais fundamentados no lógos ou razão.

 

* Fragmentos retirados de http://www.brasilescola.com/filosofia/ironia-maieutica-socrates.htm

Método “Pedagogizador” e a prática educacional voltada para intersubjetividade.

É preciso analisar a educação como prática, com fundo histórico, com usos bem determinados. São as necessidades que as diversas instituições têm de modificar suas funções em consonância com as mudanças mais amplas nos fatores sociais, econômicos e culturais, que mostram como a educação, ao se escolarizar na modernidade, passou a exercer um papel de controlador e adaptador das necessidades. E elas são, grosso modo, tanto necessidades técnicas (aprender ofícios e funções) como necessidades operatórias, estratégica.

Dentre as conseqüências negativas do modelo técnico/cientificizante, proveniente da sociedade moderna tecnicizada, está o indivíduo treinado, pedagogizado. Neste sentido, a escola funciona como operador de pedagogização, pois reúne a capacidade de habilitar com recursos educacionais básicos a criança e o jovem, com a capacidade de fornecer os mecanismos e instrumentos pedagógicos que asseguram obediência, responsabilidade, prontidão, docilidade, adaptabilidade. Esses mecanismos e instrumentos são, por exemplo, a fila, a carteira, o treino para a escrita, os exercícios com dificuldades crescentes, a repetição, a presença num tempo e num espaço recortados, a punição pelo menor desvio de conduta, a vigilância por parte de um mestre ou de um monitor, as provas, os exames, os testes de aprendizagem e de recuperação, o treinamento dentro de padrões e normas fixos.

O estilo “pedagogizador” limita-se a instruir, reproduzir conhecimento, aplicar técnicas ao aluno, tratado como objeto a ser conhecido e treinado. Este é o papel da escola na sociedade disciplinar de que fala Foucault. Já Habermas propõe um modelo calcado na intersubjetividade, mais apto a conduzir para a educação, entendida num sentido construtor de subjetividades emancipadas, criativas, autônomas. Chamamos este modelo de “modelo educacional”. Educar é produzir sujeitos capazes de linguagem e de ação, calcadas em razões e argumentações justificadas, legítimas, exigências fundamentais para atender às demandas sociais, culturais, econômicas e éticas da modernidade. No Brasil, os desafios são imensos, porém contornáveis mediante de políticas educacionais adequadas, cujo maior obstáculo é a escola “pedagogizadora”. Há certas transformações sociais que só ocorrerão por meio da educação construtora de sujeitos capazes e não apenas capacitados, autônomos e não apenas treinados, qualificados para a ação e não apenas para o exercício.

* Fragmentos retirados de: ARAUJO, Inês Lacerda.  Da “pedagogização” à educação: acerca de algumas contribuições de Foucault e Habermas para a filosofia da educação. In: Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 3, n.7, p. 75-88, set./dez. 2002.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Filosofia Moderna e suas características

Filosofia moderna é aquela que se desenvolveu durante os séculos XV, XVI, XVII e XVIII, tendo seu início no Renascimento e se estendendo até Emanuel Kant.

Esta filosofia possui algumas características que são consequências da perda de contato com as grandes sínteses surgidas no século XIII, sendo as principais as seguintes:

1. Individualismo: quer dizer, a tendência a descuidar da tradição para acentuar o caráter pessoal do próprio pensamento. A filosofia medieval, caída em descrédito, é comumente ignorada ou conhecida superficialmente. Os novos filósofos não crêem que valha a pena obter conhecimentos profundos acerca de uma doutrina que todos consideram superada. Daqui a tendência a construir cada um uma síntese total desde os fundamentos, e daqui também a multiplicidade de sistemas, aliás contraditórios entre si. A atitude de Descartes, como a de Bacon e a de Kant, é a de começar desde o princípio, refazer o todo, ser iniciadores.
Nasce desta maneira uma alteração do conceito de verdade filosófica que se contamina com o de
2. Originalidade: contaminação não declarada, mas real. Concebe-se a originalidade mais como novidade que como 're-pensamento', penetração e desenvolvimento progressivo de um núcleo já discutido e aceito. A filosofia tende, deste modo, a apresentar-se como uma revelação, uma manifestação da individualidade de cada filósofo, fracionando-se nas várias 'visões de mundo', condicionadas pela capacidade engenhosa de cada personagem e de cada nacionalidade. Parece que se perde o conceito mesmo de verdade e de filosofia como patrimônio necessariamente universal e susceptível, portanto, de graduais aperfeiçoamentos, para transformá-lo no conceito artístico de criação original.
A originalidade da filosofia traz consigo outro caráter a mais
3. A liberdade de procedimento: não somente no sentido de independência da doutrina revelada, mas também no sentido de falta de preocupação demonstrativa; as obras filosóficas dos tempos modernos têm uma forma expositiva e, frequentemente, mais que demonstrar, sugerem; mais que persuadir, sugestionam. Isto vai ligado, em parte, também, com o abandono da forma silogística e em geral com o descuido dos procedimentos formais: a escolástica decadente havia abusado deles, a filosofia moderna não os usa.
Outros dintintivos da filosofia moderna são a crescente tendência a fazer da razão não somente o tribunal supremo, mas também a característica peculiar do homem; sua separação completa da teologia, sendo-lhe muitas vezes até mesmo hostil; o abandono da língua latina, substituída pelas línguas vulgares; a multiplicação dos centros de cultura devido a quebra da unidade doutrinária: a cismundanidade, ou seja, o objeto de estudo passa a ser preponderantemente o mundo de cá, dos homens, abandonando quase por completo a transmundanidade tão presente na filosofia realista; daí, a atenção voltada primordialmente para a Natureza, levando deste modo ao triunfo do ponto de vista do quantitativo e do mensurável.
De tudo isso pode-se inferir que o significado, a validade das diversas sínteses da filosofia moderna não está na sua integridade de síntese, mas somente naquelas doutrinas parciais e naqueles aspectos também parciais que constituem, de fato, não um abandono, mas um estudo mais profundo e um desenvolvimento de elementos que podem enriquecer as grandes linhas da síntese filosófica realista, objetiva, verdadeira.
Paulo Barbosa.

* Fragmentos retirados de http://civilizacaoeambiente.blogspot.com.br/2009/08/caracteristicas-da-filosofia-moderna.html

Correntes filosóficas: Principais filósofos

 


Fonte:  http://www.youtube.com/watch?v=-WRH-oUJztc

Correntes filosóficas: Empirismo, Racionalismo e Criticismo Kantiano

Podemos enumerar três grandes correntes filosóficas empenhadas em explicar como se dá o desenvolvimento do conhecimento humano: o empirismo, o racionalismo e o criticismo kantiano.


O empirismo parte do princípio de que o desenvolvimento do conhecimento é determinado pelo objeto, pela experiência, pelo ambiente externo e não pelo sujeito, isto é, de fora para dentro. De acordo com esta concepção, o ser humano desenvolve o seu conhecimento passivamente, a partir de reações do sujeito a estímulos externos, propiciados pelo ambiente. Esta concepção tem sua origem na antiguidade, através dos filósofos materialistas. No entanto, é na modernidade que ela ganha força. Seus principais representantes são: Francis Bacon, para quem o homem deveria exercer um domínio total sobre a natureza e David Hume, que considera que a mente de todos nós, quando nascemos, é como um livro em branco, que será escrito a partir das experiências de cada um.


O racionalismo, por sua vez, parte da afirmação de que o desenvolvimento do conhecimento é definido pelo sujeito e não pelo objeto ou pelo meio, ou seja, o conhecimento é formado de dentro para fora. Desse ponto de vista, o sujeito traz consigo, desde o nascimento, as ideias verdadeiras que serão necessárias para a construção do conhecimento, o uso sábio destas ideias inatas impedirá que ele incorra nos erros comuns daqueles que se deixam levar apenas pela experiência. O homem já nasce com a inteligência “pré-moldada”. Assim como o empirismo, o racionalismo tem suas raízes na antiguidade, através de Platão e outros pensadores importantes. Na modernidade, o principal pensador racionalista é Descartes, que, através do “cogito” (penso, logo existo), postulou a supremacia total da razão.


Embora sejam distintos completamente na concepção do conhecimento, tanto o racionalismo e o empirismo cometem o mesmo erro, que é a separação total do sujeito que conhece do objeto que é conhecido, as consequências desta cisão para a humanidade são tão alarmantes que a ela é creditada a maioria dos males advindos do mau uso do entendimento desde a modernidade até os nossos dias.


Ao empirismo credita-se, por exemplo, a importância exagerada que é dada ao conhecimento técnico e científico. Como podemos observar em nossas escolas, já que a educação é o tema central do presente ensaio, há uma distribuição de carga horária que privilegia as chamadas disciplinas “exatas”, como a matemática, a física, a química, deixando de lado as chamadas “humanas”, como a história, a sociologia e a filosofia. Em alguns casos, a proporção chega a “quatro por um”. Qual é a razão para isto? Um grau de importância maior concedido ao conhecimento técnico, deixando em segundo plano a formação humana do indivíduo, sem a qual ele não poderá fazer um uso consciente do saber técnico.


 Ao racionalismo, sobretudo o pensamento cartesiano, recai a crítica de ser o responsável por toda a fragmentação no campo do saber. Ao estabelecer uma total distinção entre sujeito e objeto, Descartes abriu as portas para uma visão fragmentada da realidade, muito criticada, talvez injustamente, por Capra, em seu livro “O ponto de mutação”, no qual o autor defende uma visão mais integral e “holística” da realidade. Esta fragmentação do saber pode ser evidenciada também na educação. A própria divisão em disciplinas “exatas”, “biomédicas” e “humanas” é um exemplo disto, assim como a “especialização”. Os médicos, por exemplo, não tratam da saúde do corpo como um todo. Há aquele que trata da enfermidade dos olhos, o que trata da enfermidade do coração e assim por diante.


Finalmente, chegamos ao criticismo kantiano. A grande contribuição que podemos atribuir a Kant foi a iniciativa de superar a dicotomia sujeito/objeto, característica do pensamento anterior ao seu, embora os seus críticos afirmem que o que ele conseguiu foi ampliá-la ou, na melhor das hipóteses, apresentá-la de uma nova maneira, através do que ele mesmo chamou de “revolução copernicana”. Para Kant, o desenvolvimento do conhecimento está totalmente ligado à interação entre o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido. O sujeito fornece a “forma” para o conhecimento e o objeto, a “matéria”, estando esta intrinsecamente ligada àquela. O ponto de partida de Kant é uma crítica à capacidade da razão, a razão não pode conhecer tudo, pois nem tudo se apresenta para ela. Desta forma, podemos ver em Kant uma primeira tentativa de conciliação entre o homem e o mundo, principalmente através do apelo para uma formação crítica do indivíduo. O homem deve construir o seu conhecimento através da realidade que lhe é apresentada. Ele não é o senhor pleno da natureza, como quiseram dar a entender tanto o empirismo, quanto o racionalismo. Ele é parte importante da construção do saber, cabe a ele, através dos dados fornecidos pela experiência, transformá-los em conhecimento, através da interação entre os dados fornecidos pelos sentidos e a capacidade inata da razão.


 No que se refere à educação, o pensamento kantiano tem implicações decisivas, pois, em última instância, é o indivíduo que constrói o seu saber. É necessário que o homem, sobretudo os jovens estudantes, compreendam que a educação é a construção de toda uma vida, não se aprende um ensinamento acabado, pronto, pois o aprendizado é um processo contínuo. Para que isto seja possível, é necessário que os educadores também tenham uma mudança de postura em relação ao ensinar. O professor já não é mais aquele que detém o conhecimento, ele deve ser um estimulador, deve incentivar os alunos, levá-los a compreender que existe todo um mundo esperando que eles cooperem de alguma forma, levá-los a compreender que se não fosse pela abnegação e sacrifício de inúmeras pessoas que dedicaram sua vida à pesquisa, científica e filosófica, a humanidade não teria saído de seus primórdios e viveríamos ainda como viviam nossos ancestrais. É importante também que o educador estimule os seus alunos a formarem uma conduta ética, que saibam usar dos recursos naturais de forma consciente, de forma que sua utilização não apresente um perigo para eles próprios e para as gerações futuras.
    
A autonomia da razão é o bem mais precioso que a pessoa pode aspirar, no entanto, o que se observa nas escolas é o oposto, formam-se, a cada dia, dezenas e dezenas de “autômatos” humanos, que, levados por um anseio de “se dar bem na vida”, preocupam-se apenas com “o terreno da própria casa”, pensando que podem viver como parte isolada do todo e procurando levar vantagem em tudo. São indivíduos “práticos”, querem tudo de forma instantânea, pronta, nunca se perguntam como surgiu o carro ou o computador que usam diariamente, querem apenas usá-los. Felizmente, existe uma pequena gama de indivíduos para os quais tais preocupações consomem os dias, fazendo-os dedicarem-se ao bem estar humano, em detrimento do seu próprio bem estar. Um indivíduo destes é aquele que, mesmo não estando afetado por uma doença grave, dedica seus dias à cura deste mal, cura esta que será empregada em auxílio de inúmeras pessoas. Se não houvesse homens desta natureza, o mundo ainda seria o mesmo de milhares de anos atrás. Por outro lado, muitos têm empregado os mesmos esforços em sentido contrário, por exemplo, visando a destruição da natureza e a própria destruição humana, através de artefatos como a bomba atômica e outros tantos. São pessoas que, embora tenham obtido um nível muito grande de conhecimento, lhes falta o correspondente saber humano e ético, fruto do desequilíbrio do qual já falamos no presente ensaio.


Ao abordar o “esclarecimento”, Kant apela para a necessidade do homem superar a menoridade da razão (da qual ele é o próprio responsável), através do abandono da preguiça e da covardia e do uso público da razão. O que é isto senão o exercício da autonomia da razão? Voltando à nossa questão inicial, que era abordar a necessidade de um uso consciente das capacidades humanas, concluímos que é necessário que haja um equilíbrio entre o saber técnico e a formação humana e ética, pois só a partir deste equilíbrio é que poderemos nos tornar conscientes de que cabe a nós a responsabilidade pelos nossos atos. Não devemos creditar a terceiros a responsabilidade das decisões que tomamos, nem tomá-las sujeitando-as à aprovação de outros em detrimento da nossa própria aprovação. Este é o papel que cabe à educação a aos educadores, para que se possa reverter este quadro caótico que se encontra diante de nossos olhos, mudando assim o rumo dos acontecimentos, para que possamos andar em direção à formação de uma nova humanidade.

* Fragmentos retirados de http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2602794

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pensamento Educacional de Platão e Aristóteles

ESTUDO PERMANENTE
                                               

Figura - Platão


A educação, segundo a concepção platônica, visava a testar as aptidões dos alunos para que apenas os mais inclinados ao conhecimento recebessem a formação completa para ser governantes. Essa era a finalidade do sistema educacional planejado pelo filósofo, que pregava a renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O processo deveria ser longo, porque Platão acreditava que o talento e o gênio só se revelam aos poucos.

A formação dos cidadãos começaria antes mesmo do nascimento, pelo planejamento eugênico da procriação. As crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas para o campo, uma vez que Platão considerava corruptora a influência dos mais velhos. Até os 10 anos, a educação seria predominantemente física e constituída de brincadeiras e esporte. A idéia era criar uma reserva de saúde para toda a vida. Em seguida, começaria a etapa da educação musical (abrangendo música e poesia), para se aprender harmonia e ritmo, saberes que criariam uma propensão à justiça, e para dar forma sincopada e atrativa a conteúdos de Matemática, História e Ciência. Depois dos 16 anos, à música se somariam os exercícios físicos, com o objetivo de equilibrar força muscular e aprimoramento do espírito.

Aos 20 anos, os jovens seriam submetidos a um teste para saber que carreira deveriam abraçar. Os aprovados receberiam, então, mais dez anos de instrução e treinamento para o corpo, a mente e o caráter. No teste que se seguiria, os reprovados se encaminhariam para a carreira militar e os aprovados para a filosofia - neste caso, os objetivos dos estudos seriam pensar com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos, terminaria a preparação dos reis-filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade, testando os conhecimentos entre os homens comuns e trabalhando para se sustentar. Somente os que fossem bem-sucedidos se tornariam governantes ou "guardiães do Estado".





Figura - Aristóteles




CULTIVO DA PERFEIÇÃO

“A educação, para Aristóteles, é um caminho para a vida pública”, prossegue Carlota. Cabe à educação a formação do caráter do aluno. Perseguir a virtude significaria, em todas as atitudes, buscar o “justo meio”. A prudência e a sensatez se encontrariam no meio-termo, ou medida justa – “o que não é demais nem muito pouco”, nas palavras do filósofo.

Um dos fundamentos do pensamento aristotélico é que todas as coisas têm uma finalidade. É isso que, segundo o filósofo, leva todos os seres vivos a se desenvolver de um estado de imperfeição (semente ou embrião) a outro de perfeição (correspondente ao estágio de maturidade e reprodução). Nem todos os seres conseguem ou têm oportunidade de cumprir o ciclo em sua plenitude, porém. Por ter potencialidades múltiplas, o ser humano só será feliz e dará sua melhor contribuição ao mundo se desfrutar das condições necessárias para desenvolver o talento. A organização social e política, em geral, e a educação, em particular, têm a responsabilidade de fornecer essas condições.

IMITAÇÃO, O PRINCÍPIO DO APRENDIZADO

Aristóteles não era, como Platão, um crítico da sociedade e da democracia de Atenas. Ao contrário, considerava a família, como se constituía na época, o núcleo inicial da organização das cidades e a primeira instância da educação das crianças. Atribuía, no entanto, aos governantes e aos legisladores o dever de regular e vigiar o funcionamento das famílias para garantir que as crianças crescessem com saúde e obrigações cívicas. Por isso, o Estado deveria também ser o único responsável pelo ensino. Na escola, o princípio do aprendizado seria a imitação. Segundo ele, os bons hábitos se formavam nas crianças pelo exemplo dos adultos. Quanto ao conteúdo dos estudos, Aristóteles via com desconfiança o saber "útil", uma vez que cabia aos escravos exercer a maioria dos ofícios, considerados indignos dos homens livres.


* Fragmentos retirados de
http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/platao-307607.shtml
http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/aristoteles-307025.shtml

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Ontologia

A palavra ontologia é composta de duas outras: onto e logia. Onto deriva-se de dois substantivos gregos, ta onta (os bens e as coisas realmente possuídas por alguém) e ta eonta (as coisas realmente existentes). Essas duas palavras, por sua vez, derivam-se do verbo ser, que, em grego, se diz einai. O particípio presente desse verbo se diz on (sendo, ente) e ontos (sendo, entes). Dessa maneira, as palavras onta e eonta (as coisas) e on (ente) levaram a um substantivo: to on, que significa o Ser. O Ser é o que é realmente e se opõe ao que parece ser, à aparência. Assim, ontologia significa: estudo ou conhecimento do Ser, dos entes ou das coisas tais como são em si mesmas, real e verdadeiramente.

* Fragmentos retirados de CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Mito

O QUE É UM MITO?

Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.


QUEM NARRA O MITO?

O poeta-rapsodo. Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito - é sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável.


NARRATIVA MÍTICA
 CUPIDO

Observando que as pessoas apaixonadas estão sempre cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e também serem amadas, o mito narra a origem do amor, isto é, o nascimento do deus Eros (que conhecemos mais com o nome de Cupido):
Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida.

* Fragmentos retirados de CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

Filosofia e Filosofia de vida

FILOSOFIA

A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo
deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio.
Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.
Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.


FILOSOFIA DE VIDA 

A Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. Não se trata de dizer “eu acho que ”, mas de poder afirmar “eu penso que”.
O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de ideias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente.
Quando o senso comum diz “esta é minha filosofia” ou “isso é a filosofia de fulana ou de fulano”, engana-se e não se engana.
Engana-se porque imagina que para “ter uma filosofia” basta alguém possuir um conjunto de ideias mais ou menos coerentes sobre todas as coisas e pessoas, bem como ter um conjunto de princípios mais ou menos coerentes para julgar as coisas e as pessoas. “Minha filosofia” ou a “filosofia de fulano” ficam no plano de um “eu acho” coerente.
Mas o senso comum não se engana ao usar essas expressões porque percebe, ainda que muito confusamente, que há uma característica nas ideias e nos princípios que nos leva a dizer que são uma filosofia: a coerência, as relações entre as ideias e entre os princípios. Ou seja, o senso comum pressente que a Filosofia opera sistematicamente, com coerência e lógica, que a Filosofia tem uma vocação para formar um todo daquilo que aparece de modo fragmentado em nossa experiência cotidiana.

* Fragmentos retirados de CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

Reflexão